No mês em que o Rotary comemora 113 anos, trazemos uma mensagem
especial de seu fundador, Paul Harris, publicada na edição de fevereiro de 1947
da revista The Rotarian (a
publicação mãe da organização). O texto é importante não só por ter sido o
último – Paul havia falecido em 27 de janeiro daquele mesmo ano –, mas por
também conter uma reflexão: de como uma ideia posta em prática em 1905 se
expandiu pelo planeta.
Dando uma olhada nas minhas mensagens de aniversário passadas,
tive a impressão de já haver coberto cada parte do todo, de que já falei tudo o
que sabia. Então me veio à mente que eu havia omitido a pergunta que os
rotarianos me fazem com maior freqüência: “Quando você criou o Rotary,
imaginava que ele se tornaria algo parecido com o que é hoje?”
Minha resposta a essa questão é: “Não”. Meus pensamentos naquele
dia, 42 anos atrás, quando o primeiro clube se reuniu pela primeira vez,
estavam bem longe disso. Lembrando a resposta de Andrew Carnegie (empresário e
filantropo) a uma adorável senhora que lhe perguntou se não achava que seu
trabalho era inspirador: “Não, madame, acho que ele foi mais suado do que
inspirado.”
Assim foi no Rotary. Não houve um início por inspiração. Jovens
executivos, a maioria do interior, acorreram em resposta ao meu chamado.
Desentrosados com a vida de cidade, nos reunimos para nos ajudar e fazer
amizades. Sentíamo-nos solitários e havíamos encontrado uma cura para a
solidão. Ansiávamos pelas reuniões como um viajante em um deserto anseia por um
oásis. Abolimos o “senhor” e usávamos os primeiros nomes. Silvester Schiele
sugeriu fotos na nossa lista de associados e a leitura de jornais sobre nossos
respectivos negócios. Harry Ruggles contribuiu com músicas durante as reuniões.
Meu projeto para o nosso clube era que apenas um membro de cada
ramo de negócio seria elegível para admissão. Dessa forma, poderíamos desfrutar
do companheirismo, assim como nos ajudar em nossas respectivas áreas de
atividade. O clube cresceu aos trancos e barrancos, e representantes de
diferentes nacionalidades, religiões e convicções políticas foram chegando. A
total tolerância prevalecia.
Nossa paz e tranqüilidade, porém, logo chegou a um limite.
Cansamos de nos contentar com isolacionismo e começamos o Serviço à Comunidade,
construído sobre os alicerces do companheirismo e da boa vontade, e essa base
nunca foi abalada. O Rotary se tornou conhecido como uma influência benéfica na
cidade de Chicago.
Quase simultaneamente, iniciei uma campanha para criar Rotary
Clubs em outras cidades. A maioria dos associados considerou que isto era uma
fantasia além dos limites da razão. Então segui adiante sozinho, embora com a
simpatia de todos. É uma questão histórica como o clube Número Dois foi
organizado em São Francisco, como o Rotary atravessou a fronteira do Canadá até
Winnipeg, e então cruzou o oceano até as Ilhas Britânicas, onde se tornou uma
influência por toda a extensão britânica. Chegou a vez de Cuba e, finalmente, o
Rotary se espalhou pelo mundo.
Se eu fui o arquiteto, Chesley R. Perry foi o construtor. A ele
devem ser creditados mais resultados do que a qualquer outro homem. Membro do
clube de Chicago, ele foi eleito secretário da Associação Nacional de Rotary
Clubs quando esta foi formada em 1910. Ele serviu, como meus leitores bem o
sabem, como secretário do Rotary desde então até 1942, e nesse meio tempo
fundou e tem editado esta revista. E então vieram homens como o falecido James
W. Davidson, do Canadá, que com seu compatriota Coronel L. Layton Ralston,
“plantou” o Rotary nos antípodas[1]. Posteriormente, quando a
saúde e as forças de Jim James estavam fraquejando, ele passou três anos
completando a difusão do Rotary para muitas outras terras. Depois de fazer seu
relatório para o Conselho Diretor do Rotary International, em Chicago, Jim
retornou ao Canadá e lá faleceu.
O Rotary se desenvolveu com dificuldade, por meio de um trabalho
de sacrifício de homens que se dedicaram incansavelmente. Ele agora segue de
maneira miraculosa. Seu companheirismo faz com que homens peguem suas camas
(conscientemente doentes, às vezes, acredito) e caminhem antes de interromper a
presença nas reuniões dos Rotary.
Mas o Rotary executa também serviços inestimáveis de inúmeras
outras maneiras. Vejam como ele está espalhando conhecimento nas Nações Unidas,
onde a própria civilização está em jogo. Como o Rotary poderia agir de outra
forma? Os delegados estão reunidos para promover a compreensão internacional e
a boa vontade. Este é o âmago dos ensinamentos do Rotary. Rotarianos estavam
entre os membros de 20 delegações e eram coordenadores de sete delas no
encontro das Nações Unidas em São Francisco. Mais poder, mais poder para ti,
meu amado Rotary!
Deve-se lembrar que 1905, ano do nascimento de Rotary, não
estava longe dos tempos das carroças. E agora estamos na era dos aviões e da
quebra do átomo, e o Rotary ainda está aí. Por exemplo, Phil Lovejoy, o
competente sucessor de Ches Perry, pode pegar um avião em Chicago, pousar em
Londres, visitar vários clubes, e estar de volta à sua mesa em uma semana!
Não, senhores rotarianos, eu não imaginei em 1905 um movimento
mundial com 6.000 clubes e 300 mil homens. Quando um homem planta uma pequena
muda no início da primavera, pode ter certeza que algum dia ali crescerá uma
poderosa árvore? Ele não precisa contar com chuva e sol e o sorriso da
Providência? Quando ele vê o primeiro broto, então, aí sim, ele pode começar a
sonhar com a sombra.
Paul Percy Harris
O
Rotary hoje
Hoje o Rotary, que começou com
5 associados, está presente em 184 países, reunindo 1.230.715 associados em
10.814 clubes, além de 248.722 rotaractianos
e 513.176 interactianos (Rotaract e Interact são programas de Rotary destinados
a jovens). O Rotary é uma rede global de líderes comunitários, amigos e
vizinhos que se unem para causar mudanças positivas e duradouras em suas
cidades e pelo mundo, por meio de projetos sustentáveis em diversas áreas.
[1]
Antípoda – Quem, em relação a outra
pessoa, vive do outro lado da Terra; habitante de um lugar, no mundo,
diametralmente oposto a outro: o japonês é antípoda do brasileiro. Lugar
excessivamente longe ou distante.